Com frequência nos deparamos com traduções inusitadas de títulos de filmes ou séries e nosso primeiro instinto é culpar o tradutor. Mas vale ressaltar que a decisão final sobre a tradução de títulos de filmes e séries é feita, em geral, pelo departamento de marketing da distribuidora ou da plataforma.
Traduzir três ou quatro palavras parece uma tarefa simples, mas o título de um filme pode ajudar no seu sucesso na bilheteria ou promover o seu fracasso, por isso, vários aspectos são considerados.
A obra já possui tradução consagrada?
No caso de filmes baseados em livros, é comum que utilizemos o mesmo título já definido nos livros. Isso evita confusão e atrai os leitores para os cinemas. Um exemplo disso são os livros e filmes do Harry Potter.
No entanto, nem sempre essa regra é seguida, direitos autorais ou títulos que não são chamativos podem ser alterados. Em português, por exemplo, o livro mais famoso da Marie Kondo se chama “A mágica da arrumação”, porém quando ela ganhou uma série na Netflix, o título utilizado foi “Ordem na casa com Marie Kondo”.
O livro “It” de Stephen King foi publicado no Brasil como “A Coisa”, em sua adaptação para o cinema de 2017, o título escolhido foi “It: A coisa” para manter a referência à tradução já conhecida pelo público.
Uma tradução literal fará sentido?
Expressões idiomáticas e referências culturais por vezes dificultam uma tradução literal. O título “Minha mãe é uma Peça”, por exemplo, faz referência ao fato de que o filme é baseado em uma peça e é uma expressão idiomática comum no português. “My mother is a play”, sua tradução literal para o inglês, poderia até remeter a uma peça, mas não faria sentido a um falante do inglês, nem teria o significado de que a pessoa é engraçada, diferente ou inusitada.
Da mesma forma, uma tradução literal de “Ocean’s Eleven” seria “Os Onze Homens do Ocean” ou, simplesmente, “Os Onze do Ocean”. Além de fazer pouco sentido e não dar muitas indicações sobre o filme, o título literal não é sempre bem-visto do ponto de vista do marketing.
A tradução gera mal-estar ou confusão cultural?
É importante verificar se o título não é ofensivo ou causa qualquer tipo de desconforto cultural no país de destino. Como falamos anteriormente, isso pode gerar grandes prejuízos na bilheteria e determinar o fracasso do filme naquele país.
Tamanho do título
Títulos muito grandes têm caído em desuso e os motivos para isso são vários. Um deles é que os espectadores não gostam, e costumam encurtá-los sempre que possível. Além disso, títulos muito grandes são de difícil visualização em plataformas de streaming usadas em smartphones.
O clássico de 1975, “One Flew Over the Cuckoo’s Nest” foi divulgado no Brasil como “Um Estranho no Ninho” e é um exemplo de título que é mais longo no original do que em sua tradução.
Títulos que não são traduzidos
Existem vários motivos para não se traduzir um título. A Netflix tem como regra não traduzir o título de obras que não serão dubladas, como, por exemplo, seus especiais de stand-up comedy. Um título em português “vende” a ideia de que uma dublagem também está disponível.
Além disso, filmes e séries consideradas “cult” não são traduzidos por conta das características de seu próprio público, que costuma assistir à série legendada, como é o caso de “The OA” e “Stranger Things”. É comum que séries ganhem traduções quando passam a ser exibidas na TV aberta, isso gera estranheza para quem já estava acostumado com o título original como “Smallville” e “Breaking Bad” e se depara com títulos como “Smallville: As aventuras do Superboy” e “A química do mal”. Essas traduções acabam não sendo bem aceitas pelo público já acostumado ao título em inglês.
Uso de Subtítulos
Embora já tenhamos falado sobre títulos muito compridos, ainda é comum que se utilize o recurso dos subtítulos, mantendo o título original e adicionando um subtítulo explicativo. Assim temos títulos como: “La La Land – Cantando Estações”, “Forrest Gump – O Contador de Histórias” e “Grease – Nos Tempos da Brilhantina”.
Direitos Autorais
É necessário também verificar se aquele título já não foi usado por outra obra para evitar violações de direitos autorais e para não causar confusão para o seu público.
Pesquisas de Mercado
Além de todas as pesquisas culturais e linguísticas, duas opções de títulos podem ser “testadas” com uma pequena amostra do público-alvo para verificar qual alternativa tem melhor aceitação.
Assim, podemos considerar que uma tradução de título bem-feita é, na verdade, uma transcriação, pois todos esses aspectos foram considerados do ponto de vista do marketing e da tradução para que o título da obra seja atraente ao seu público-alvo.
Algumas das nossas traduções favoritas são “Esqueceram de mim” (original: Home Alone), “Loucademia de polícia” (original: Police Academy) e “Se Beber, Não Case” (original: The Hangover). E você? Quais são suas traduções favoritas e quais você detestou?
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