O que a série “Round 6” da Netflix nos ensina sobre tradução criativa?

O que a série “Round 6” da Netflix nos ensina sobre tradução criativa?

“Round 6” ou “Squid Game”, assim é chamada a série sul-coreana originalmente chamada “Ojing-eo Geim” (“Jogo da Lula”, em tradução literal) que chegou à Netflix no último dia 17 de setembro e que, em questão de dias, se tornou um fenômeno de popularidade.

Sendo assistida em mais de 80 países, a série emplacou uma série de memes nas redes sociais e já é o maior lançamento de seriado original da Netflix.

O mais recente lançamento do streaming chamou a atenção por usar brincadeiras infantis, popularmente conhecidas na Coreia do Sul, mas com um aspecto violento que podem ser interpretados como uma pesada crítica social.

Apesar do teor sangrento, as brincadeiras, que possuem nomes diferentes em outras regiões do mundo, são similares às brincadeiras de outros lugares, o que nos chama a atenção para o poder que a tradução criativa tem de gerar identificação em seu público-alvo.

Nesse artigo, vamos falar um pouco mais sobre o potencial da tradução criativa e como ela pode ser utilizada em diferentes contextos. Acompanhe a leitura!

O enredo da série ROUND 6

A história se passa na Coréia do Sul e conta com 456 jogadores adultos, endividados, que concorrem a um prêmio de 46.5 bilhões de wons, cerca de 217 milhões de reais, para quem chegar ao final da competição como grande vencedor.

Para garantir o prêmio eles precisarão jogar conhecidos jogos de infância até restar um único vencedor.

No entanto, as brincadeiras ganham um viés extremamente violento e os competidores que perdem uma etapa, perdem também a própria vida.

Logo no primeiro episódio, o público já começou a reconhecer algumas brincadeiras, o que gerou ainda mais visibilidade para a série, despertando a curiosidade de um número maior de pessoas.

Essa identificação só foi possível graças às diferentes traduções e adaptações para cada idioma.

A tradução criativa: destrinchando as brincadeiras

A famosa frase “Batatinha frita 1, 2, 3…”, cantada pela boneca na série, vem do original em coreanoMugunghwa kkoci pieot seumnida”, que em uma tradução livre significa “A flor de hibisco desabrochou”. Porém, se a frase faz sentido no original coreano, em português brasileiro, ela não significa nada.

Entretanto, no Brasil, temos uma brincadeira parecida com a jogada no seriado com o nome de “Batatinha frita, 1, 2, 3”. Assim, a equipe de tradução tomou a decisão de fazer uma tradução menos literal do termo.

Apesar de todo o apelo visual dos movimentos que remetem às brincadeiras do país de origem de cada telespectador, o apelo sonoro das palavras faz muita diferença para o entendimento completo da narrativa e para que o trabalho da legenda seja eficaz.

Isso só é possível com a adaptação realizada no processo de transcriação (outro nome para tradução criativa). Já imaginou tentar compreender o contexto original da série sem uma adaptação adequada?

Certamente seria muito mais difícil de se identificar com a história e com os personagens, na verdade, podemos arriscar dizer que seria quase impossível!

importância da transcriação

É através do trabalho de transcriação que conseguimos ter acesso às mais diferentes obras literárias e cinematográficas.

E o Round 6 é um exemplo claro desse trabalho. Se pararmos para analisar, o papel de adaptar uma mesma história para culturas distintas é o que permite com que grandes obras se perpetuem por gerações.

Do mesmo modo, marcas que conquistam fãs e consumidores em todo o mundo recorrem ao potencial da tradução criativa para adaptar suas ideias ao contexto local.

Sem o trabalho da tradução criativa, a grande maioria dessas obras estaria restrita apenas ao seu país de origem ou à países que falam o mesmo idioma.

A capacidade de transformar as palavras, sem perder a essência da mensagem original gerando uma identificação além das fronteiras, é o segredo da grande aceitação da série em mais de 80 países.

Esse trabalho envolve além do aprofundamento na cultura local, o uso da criatividade do escritor para manter os detalhes que permitem que o sentido principal da obra seja interpretado pelas diferentes regiões sem comprometer a sua essência.

Apesar das brincadeiras retratadas em Round 6 não serem exatamente iguais em todos os países do mundo, a adaptação dá ao telespectador contexto suficiente para entender o seu sentido dentro do universo da trama.

Além disso, essas diferenças culturais enriquecem ainda mais a experiência, promovendo visibilidade à cultura coreana e apresentando um mundo novo ao público brasileiro.

Quão genial é o papel da tradução criativa, não é mesmo? Uma verdadeira arte!

Leia mais sobre Tradução Criativa nos posts da Aliança Traduções!

 

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